Foruns de leitura / Desafios 2

A Varanda do Frangipani
Mia Couto

A poesia deste livro nasce logo no título: a “varanda” é Moçambique, na expressão de Eduardo Lourenço, lembrando o aspecto geográfico do país, debruçado sobre o Oceano Índico. O frangipani é uma árvore de Moçambique que tema a característica peculiar de perder toda a folhagem no momento da floração. É uma árvore que morre e renasce; ou apenas uma árvore que, como o país que Mia Couto lamenta, perde a memória?
Mia Couto tem magia nas palavras. Este é talvez o livro mais singelo e mais objectivo deste magnífico escritor moçambicano. Numa prosa, como sempre, marcadamente fiel à alma e ao falar de Moçambique, Mia Couto presenteia-nos com uma linguagem poética que nos faz muitas vezes pausar a leitura para sorrir, reler, fechar os olhos e saborear as palavras.

__________________________________________________________________________________________________________

Orbias: As Guerreiras da Deusa
Fábio Ventura

Noemi é fã de cinema e séries de ação e aventura. Mas nunca imaginou que ela própria faria o papel de uma dessas personagens que de um momento para o outro veem a sua vida normal dar uma volta de 180 graus. De uma forma pouco ortodoxa, descobre que é um Anjo, uma Guerreira ancestral renascida e que, numa dimensão paralela à da Terra, existe um mundo mágico regido por uma Deusa: Orbias.
Mas Naomi não terá apenas de lidar com os seus novos poderes e responsabilidades. Terá também de se confrontar com perigos e emoções aos quais não estava habituada, especialmente um sentimento em relação a Sebastian, um orbiano sedutor... Conseguirá ela superar a sua fragilidade e conflitos interiores para salvar os dois mundos da destruição?
Orbias é uma aventura fantástica repleta de ação, sensualidade, personagens e cenários surreais, humor e magia. Uma obra essencial para quem gosta de uma história cheia de surpresas e fantasia moderna.
____________________________________________________________________________________________________________

Imperatriz Isabel de Portugal

Manuela Gonzaga

Em 1526, Isabel de Portugal, considerada a mais bela mulher do seu tempo, foi para Castela ao encontro do marido, Carlos V, rei da Hispânia e imperador do Sacro Império Romano-Germânico, o soberano mais poderoso de toda a Cristandade. Em Sevilha, quando se encontraram, foi paixão à primeira vista... E um amor que durou toda a vida.
Neste livro, Manuela Gonzaga resgata Isabel de Portugal do esquecimento numa obra de leitura irresistível, colocando-a no palco da história europeia do seu tempo, com as guerras, intrigas, desgostos, cismas, ruturas, alianças e traições. Mas também com os amores e as glórias que coroaram a vida breve desta muito amada infanta de Portugal.
__________________________________________________________________________________________________________

Comboio Nocturno para Lisboa

Pascal Mercier

Numa manhã chuvosa, uma mulher prepara-se para saltar de uma ponte, em Berna. Raimund convence-a a não fazê-lo, e consegue, mas depois a mulher desaparece. Tudo o que sabe é que é portuguesa. De tarde, entra numa livraria e, por acaso, descobre um livro de um autor português, Amadeu de Prado, que foi médico, poeta e resistente durante o salazarismo.
Raimund é, desde há muito tempo, professor de latim e grego, o que já o entusiasma tão pouco como o seu casamento, já em estado de desagregação. Aprende português e, uma noite, mete-se num comboio para Lisboa, uma cidade que irá ser o local de todas as revelações...
Um livro que apetece reler lentamente, mal se acaba de ler.

____________________________________________________________________________________________________________

O silêncio das palavras

Fábio Nobre
Foi um impulso aleatório que me remeteu para a compra deste livro, e devo confessar que valeu bastante a pena.
O autor é Fábio Nobre. Escreveu apenas uma obra antes desta. Isto, combinado com uma divulgação literária nacional pouco eficiente resulta num autor pouco conhecido. Mas como sabemos, a qualidade de uma obra não é proporcional à popularidade do seu autor.
A obra é a história de António, de Carlos e de Teresa. É também a história de um taberneiro, de um pastor, e da dona de uma mercearia, assim como de toda uma aldeia e a sua população. Muito da obra passa por descrições, tanto do espaço, como dos pensamentos das próprias personagens.
A trama consiste na ascensão e queda de António. Teve uma infância e juventude passadas na aldeia, com um pai violento. Foi forçado a escapar da aldeia onde nasceu, e do seu amigo de infância Carlos. Começou uma vida nova  numa nova vila. Com uma identidade estabelecida do zero, passa vários anos feliz, até que o seu passado volta para o assombrar.
Enquanto lia a obra, comparei-a frequentemente com o clássico modelo da tragédia grega, mas sem a grandiosidade desta.  A história segue o esquema temático de uma tragédia, os eventos passados pelo protagonista são intensos e dramáticos. Mas não se encontra aqui nenhuma escala, nenhum exagero. É uma história de pessoas, apenas. A aldeia é um espaço imutável, constante. Apenas as pessoas mudam.
A obra está repleta de recursos estilísticos, mas sempre com uma melancolia inerente a toda e qualquer descrição. Não se encontram aqui floreados linguísticos desnecessários. Há sim uma grande introspeção em relação às personagens. A sua melancolia é integralmente examinada, os seus pensamentos meticulosamente examinados. O autor frequentemente coloca questões, explorando a metafísica da sua própria obra. A passagem do tempo é o catalisador da história. É o tempo que define as pessoas ou as pessoas que definem o tempo?
Em suma, é uma excelente leitura por parte de um autor-revelação. Gostei bastante, embora seja uma história, não completamente triste, mas muito melancólica.
Rafael Fonseca, nº21, 11ºD

Sem comentários:

Enviar um comentário